Recentemente, com o nascimento da minha pequena entrei de cabeça no
universo da maternidade, e junto com ela veio
uma sede enorme de conhecimento, uma vontade muito grande de fazer a coisa
certa, de fazer de minha filha uma criança feliz. Minha empatia por todas as
crianças aumentou em níveis astronômicos, fico triste com o sofrimento de
crianças, feliz com sua felicidade, me pego projetando minha filha em todos e
pensando e se for com ela?
Tomei algumas decisões, e a
primeira delas foi educar minha filha sem o uso da violência, confesso que
antes de ser mãe nem tinha pensado nisso, mas com minha filha nos braços tudo
mudou, não suporto a ideia de usar a violência contra esse pequeno ser que amo
tanto. Não, não sou uma tola sonhadora, sei que perderei a paciência com ela,
que ela provavelmente fará birra, brigará com coleguinhas, não vai querer comer
tudo, vai querer chocolate antes do almoço... sei de tudo isso, mas sei também
que a adulta sou eu e que ela é uma criança e por isso eu é que tenho que educa-la.
Quando falo de educar penso
realmente no que essa palavra significa, educar vem do latim
"educare", por sua vez ligado a "educere", verbo composto
do prefixo "ex" (fora) + "ducere" (conduzir, levar), e
significa literalmente 'conduzir para fora', ou seja, preparar o indivíduo para
o mundo. Agora me digam, quando foi que inventaram que educar é igual a bater,
que se não apanhar fica mal educado? Se
educar significa prepara o indivíduo para o mundo, então antes de tudo
precisamos ensinar empatia para nossos filhos, pois nenhuma sociedade sobrevive
se cada um pensa só em si e não se põe no lugar do outro. Mas para ensinar empatia
temos que ter empatia e nos colocarmos no lugar dos nossos filhos, e foi esse
exercício mental que fiz.
Estava ninando minha pequena, ela
dormiu com a mãozinha em meu seio, enquanto olhava meu pequeno ser lá
aconchegada nos meus braços, tão frágil, tão dependente de mim comecei a pensar
nela maior, e se eu batesse? Mas poxa, eu sou mamãe, de mim ela espera
aconchego, segurança, e eu, justamente eu, essa pessoa que tem um papel tão
importante na vida dela, como poderia agredi-la? Não fui educada apanhando, ao
contrário, sempre tive muito amor e carinho, foram poucos tapas que levei, mas
me recordo de cada um deles, justamente por minha mãe ter sido uma mãe assim
tão carinhosa, é que nas poucas vezes que levei um tapa ou um grito mais alto
isso realmente doeu na minha alma. Não quero esse sentimento para minha filha,
de forma alguma.
É muito fácil para as pessoas
reproduzirem suas vivências sem refletir, estou cansada de ouvir: “Eu apanhei e
nem por isso fiquei traumatizado...” , “Melhor apanhar dos pais quando criança
do que da polícia mais tarde”, “É por isso que hoje em dia os filhos não
respeitam os pais, é porque não apanharam”, e mais uma série de frases feitas, repetidas por gente que não se dá ao trabalho de refletir sobre o que está
falando.
Primeiro, a palmada só resolve a
raiva dos pais, já vi gente que não tomou nenhuma atitude quando o filho fez
algo sério, mas quando a criança fez algo que o irritou apanhou, mesmo sem “merecer”.
Partindo desse pressuposto, quando me irrito e bato em meu filho só estou ensinando
a ele que podemos descontar a raiva agredindo as pessoas.
Segundo, palmada não educa, amedronta.
A criança “aprende” a temer a reação dos pais, por isso não espere que seu
filho vá lhe contar apenas a verdade, pois o medo fará com que lhe esconda coisas.
Terceiro, eu é que sou a mãe então é minha obrigação conhecer um pouco sobre as fases de
desenvolvimento das crianças, e sobre educação. Não digo que todos tem que
virar experts, mas a obrigação é nossa sim! A informação existe, está
disponível, você é o adulto responsável, então não tem desculpa, informe-se. Já
vi pessoas baterem em crianças de menos de dois anos, por causa de um objeto
que a criança queria muito e fazia “birra”, se tivesse tido o cuidado de
entender melhor seu filho saberia que com essa idade a criança ainda não está
neurologicamente madura para controlar seu comportamento, então é perfeitamente
normal que chorem quando não deixamos mexer em um objeto que tanto desejam. Assim,
cabe ao adulto ajudar a criança, mudando o foco e conversando.
Quarto, podemos sim educar sem
bater! Diálogo e empatia para com vossos filhos podem ajudar muito. Vamos
refletir um pouco, sempre que você diz não para seu filho tem um motivo real?
Por exemplo, a criança está entediada em casa e pede para ir brincar lá fora e você
diz não, que é para ela brincar com seus brinquedos no quarto. Se a mãe ou pai
não tem algo realmente importante para fazer, me digam por que não pode brincar
lá fora? Será que não é o adulto que está com preguiça de sair? Porque tantos
nãos? Economizem nos nãos, deixem eles para as coisas realmente importantes, assim
como seus filhos vão saber que devem valorizar quando vocês disserem não? Ouvem
isso todos os dias, um a mais um a menos não fará diferença. Tentem ver sob a
perspectiva da criança, uma coisa que para nós é banal para eles pode ser muito
importante.
Quinto, seu comportamento conta
muito. Nossos pequenos se espelham em nós, somos seus exemplos, se falamos
palavrão eles vão falar, se gritamos eles vão gritar, se batemos eles vão
bater. Não creio que meu caráter foi formado nos poucos momentos em que levei
uns tapas, ao contrário, meu caráter foi formado observando meus pais e sua
conduta. Sinceramente não acho que a cadeia está cheia de pessoas que foram
amadas e acolhidas pelos seus pais, ao contrário acho que a cadeia está cheia
de pessoas que infelizmente quando crianças apanharam e tiveram pais ausentes e
negligentes. Sim claro, vocês podem me citar um ou dois exemplos de pessoas que
foram "bem criadas" e se tornaram criminosos, mas toda regra tem exceção, se
olharmos as estatísticas veremos que a maior parte dos presidiários foram
crianças que apanharam sim, além disso foram negligenciadas pelos seus pais
(Altoé, S, 2009).
Não, não vivo num comercial de
margarina, sou humana e provavelmente vou perder a paciência, nesses momentos
optarei por me afastar e me acalmar, pois se não posso bater no meu chefe ou no
meu marido quando tenho raiva deles, e nesses momentos me controlo, porque não
posso fazer isso com minha filha? Alias meu chefe e meu marido podem se
defender, são maiores que eu, mas minha filha é frágil, pequena e dependente de
mim, e justamente ela é que vai apanhar? Não acho isso correto. Sei que não é
fácil, mas a decisão tá tomada, sou a mãe, sou a responsável, sou adulta, minha
filha é criança, tem o direito de ser amada, protegida e educada por mim. Não
se bate em quem se ama, simples assim.
Sabrina Neves.
Referências:
Altoé, S. De “menor” a presidiário a trajetória inevitável? Biblioteca Virtual de Ciências Humanas do Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais - www.bvce.org, Rio de janeiro, 2009.
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