sábado, 12 de abril de 2014

Escolhendo a escolinha


Faz um tempão que quero falar um pouco mais sobre escola, não é novidade que nos últimos meses vivi uma angustia para tomar a decisão de escolarizar Marina. Isso porque na época ela tinha apenas 1 ano e 8 meses, e nessa idade não tem uma necessidade real de socialização com outras crianças, ao contrário, as enxerga como concorrentes. Na verdade crianças pequenas socializam com os adultos com quem estabelecem vínculos. Além disso sua uma crítica do modelo atual de escola que temos, modelo esse que prioriza a competição, o aprendizado as vezes até prematuro de conteúdos para crianças muito pequenas.

Porém a realidade bate a nossa porta e nem tudo é tão belo quanto a gente quer. Por mim Marina só escolarizava lá pelos 3 anos, só que preciso trabalhar fora, não tenho com quem deixar no início da manhã e assim a escolinha foi uma opção necessária.

Mas escolher a escola não é tão fácil assim, a primeira coisa que pensei foi que queria uma escola com proposta pedagógica parecida com a forma que eu encaro a educação de Marina.  Dei uma lidinha sobre o assunto e achei muita informação,  segue um resumo das principais linha pedagógicas que achei:

1) Construtivismo - No construtivismo o conhecimento não é passado ao aluno pelo professor, ao contrário, o aluno constrói o conhecimento de forma autônoma, ele deve entender os processos, observar, fomular hipóteses isso tudo para que adquira autonomia e consiga aprender a aprender por si só. Nesse modelo a ênfase é no processo cognitivo.

O construtivismo é inspirado nas idéias de Jean Piajet e Emilia Ferrero que defendem que a criança pode aprender, inclusive se alfabetizar sozinha, desde que tenha estímulo e ambiente favorável, dessa forma o estudante tem autonomia sobre seu processo de aprendizado. 

Outra questão importante (e polêmica) do construtivismo diz respeito ao erro do estudante, ele não é visto como um problema (como acontece no método tradicional) ele é visto como uma espécie de trampolim que ajuda na aprendizagem, assim há a possibilidade de reflexão por parte do aluno.

Na minha opinião o construtivismo é lindo, mas infelizmente percebi visitando as escolas e falando com as coordenadoras pedagógicas, que a maioria que diz ser construtivista não conhece e nem aplicam o método corretamente.

2) Linha Montessoriana - Essa linha é inspirada nas ideias de Maria Montessori e se utiliza da experiência concreta e da observação para que o aluno possa usar o conhecimento que já possui como base para poder abstrair e adquirir novos conhecimentos.

Por isso mesmo as escolas montessorianas privilegiam o uso de experiências sensoriais, atividades da vida prática, e além de tido a responsabilização da criança que também a autônoma no processo de aprendizagem.


Outra coisa bacana é que a individualidade e personalidade da criança são bastante valorizadas, outra coisa que também me atrai é o uso de brinquedos e equipamentos de madeira e artesanais que ajudam no desenvolvimento do tato e motor da criança.

Um problema que encontrei é que na cidade que moro só tem uma escola montessoriana e é longe de minha residência.

3) Linha tradicional - essa é a mais antiga, origina-se no século XVIII com Iluminismo, nela a figura do professor é central. Ele transmite conhecimento para os alunos que é sujeito passivo, se limitando a aprender apenas o que lhe foi ensinado. Desse modo o aluno recebe conhecimentos que são apresentados como verdades não sujeitas a indagação.

Eu fui educada nessa linha tradicional, sempre fui CDF então me ambientei bem, mas como educadora tenho muitas críticas a essa linha. Apesar de saber que ela funciona para uma parte dos alunos, sinceramente quero que Marina aprenda que aquilo que só serve para uma parte não é legal, o legal mesmo é incluir todos.

4) Linha Waldorf - baseia-se nas ideias de Rudolf Steiner em seus estudos sobre Antroposofia (antropos= ser humano, sofia= sabedoria). Compreende o ser humano como um ente biológico e espiritual, respeitando as características individuais, e no caso das escolas as faixas etárias.

Assim prioriza as necessidades de desenvolvimento da criança, sendo dividida em setênios que são ciclos de sete anos (0a7; 7a14 e 14a21), nesses ciclos além de trabalhar os conteúdos trabalham também aspectos relacionados aos sentimentos e atitudes caraterísticas de cada faixa etária.

No caso, Marina estaria no primeiro setênio, onde a ênfase é no desenvolvimento psicomotor, desenvolvimento de atividades lúdicas, não inclui a alfabetização nesse primeiro ciclo pois acreditam que a primeira infância deva ser vivida plenamente de forma lúdica para que o se consolide primeiramente o aspecto emocional, motor... etc

Outra coisa é que não existem professores específicos para disciplinas, na verdade o que existe é a figura de um tutor que acompanha os alunos durante todo esse período. Outra característica legal é o uso de alimentos saudáveis de preferência orgânicos, contato com a natureza e uso de brinquedos artesanais.


Simplesmente apaixonei pela linha waldorf, mas por aqui não tem nenhuma :(  mas... tem um grupo de pais querendo montar um jardim Waldorf por aqui, quem sabe ano que vem...

Além dessas linhas existem muitas outras que eu não li nada, mas só para saber tem a comportamentalista, a freireana, a de tendência democrática e devem ter outras que não citei aqui.

Pela minha vontade seria uma Waldorf, mas não tem, daí optei pelo Construtivismo, saí visitando as escolas que se diziam construtivistas da região próxima da minha casa. Um show de horrores, ambiente climatizado, alimentação nada saudável, profissionais que não entendiam o que estavam falando, técnicas de deixar chorar durante a adaptação... coisas que não acredito.

Nas visitas fiz até um roteirinho do que perguntar, porque para mim algumas coisas eram muito importantes, segue minha listinha de perguntas (hehe):

1. Qual a linha de vocês? Como é a dinâmica na sala de aula com as crianças? - o objetivo aqui era separar o joio do trigo, pegar quem se diz construtivista mas na verdade só tá entrando na moda.
2. Como é a alimentação? (Sou chata nesse item, não quero uma escola que permita refrigerante, salgadinho e essas porcarias todas);
3. Como é a adaptação? (Essa era chave, porque tem muita escola que não permite a presença dos pais, que prega que deixem as crianças chorarem para se acostumar, e eu sou TOTALMENTE contra isso!)
4. Pedir para visitar a escola, observar sala de aula, acessibilidade, segurança... etc.

Em fim achei uma com um discurso coerente, que inclui a família, não é perfeita mas tem o mais importante respeito pela infância da minha filha, usa bem o lúdico e tem uma equipe muito boa.

Ela está desde fevereiro na escola e até agora tem corrido tudo bem, e ela está até curtindo o ambiente, os "migunhos" como ela chama, tá cheia de novidade, toda brincalhona. É claro que ainda é muito novinha e eu tenho que estar atenta, porque para ela é sim uma separação grande, não tiro minha responsabilidade disso.

Os efeitos colaterais disso tudo? Ela voltou a acordar bem cedo (umas 05:00) e é claro toda animada para "bincar", mas tenho certeza que é uma forma que ela encontrou de ficar mais comigo (meu coração de mãe se despedaça nessa hora), isso me deixa triste porque fica na cara que ela precisa dessa atenção. Por outro lado tenho tentado chegar cedo em casa e dedicar o máximo tempo a ela, então nossos finais de tarde e noites tem sido bem animados por aqui.

Fontes:
http://www.pedagogia.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/guia_para_pais-metodos.shtml
Livro: a pedagogia Waldorf em debate
Livro: Para educar o potencial humano
Livro Waldorf Education and the Neurodevelopment of Intelligence: An Integrative
Livro: Pedagogia da Infância