terça-feira, 2 de setembro de 2014

O Poder do discurso materno

Ando muito reflexiva nos últimos tempo, sem muita inspiração para escrever aqui, mas andei lendo um bocado de coisa boa, então vão sair uns posts com dicas de livros legais.

O primeiro e meu preferido é O Poder do discurso materno da Laura Gutaman, mesma autora de A Maternidade e o encontro com a própria sombra, do qual já falamos aqui.

Nesse livro Laura conta como se dá o processo terapêutico de construção da biografia humada, método esse que ela desenvolveu e utiliza em sua escola na Argentina.

Laura inicia seu livro falando de como ocorre o processo terapêutico de construção da biografia humana e como se dá o processo de formação dos profissionais que trabalham com ela. Depois se detém a nos explicar sobre como se dá o processo de formação de nossa identidade, ela fala que todos nós só conseguimos nos lembrar conscientemente daquilo que foi nomeado por alguém, assim  nos vamos aprendendo quais nossos defeitos, qualidades isso vai influenciar a forma como nos enxergamos no mundo e assim acabamos por criar um personagem para "vestir".

A grande questão é que, a criança tende a levar em alta conta o que seu cuidador (em grande parte a mãe) fala sobre ela, então ao escutar a "mamãe" falar que ela é levada, preguiçosos, inteligentes, responsável, irresponsável... a criança acaba assumindo essa qualidade como parte de seu personagem e isso vai refletir na forma como ela se insere no mundo.

No entanto tudo que não foi nomeado para nós na infância, como por exemplo quando uma criança sofre com abuso sexual e não a explicam o que aconteceu, não dizem que a culpa não é dela, que ela foi abusada e simplesmente abafam o ocorrido, essa criança pode nem sequer lembrar conscientemente do abuso, mas o sofrimento existe, ela só não sabe o que é. E tudo o que nos incomoda e não conseguimos trabalhar conscientemente e relegado a nossa sombra.

Laura exemplifica como o poder do que nos foi dito durante a infância pode influenciar o nosso eu adulto, nos causar sofrimento, para tanto se utiliza da descrição de casos, desde os mais comuns, como o abandono afetivo, até abuso sexual na infância.

Mas como no processo terapêutico é importante descobrir a verdade por trás do personagem que cada um de nos carrega, os terapeutas abordam cada caso buscando encontrar nos fragmentos de memória, no dia a dia da infância e no discurso materno (o que mamãe dizia sobre mim). E iniciam tudo buscando identificar o nível de maternagem que a pessoa recebeu. Pois segundo a autora a consciência se organiza segundo o amparo ou desamparo recebidos.

Nesse caso o papel do terapeuta é justamente pegar esses fragmentos, organizar e expor ao individuo a realidade, ou seja a diferença entre o personagem que lhe atribuíram na infância e o que realmente existe de fato. 

O livro não é um guia ou manual de como lidar com filhos, educar ou coisa similar, é muito mais, nos abre os olhos para como nós acabamos repetindo modelos, ou ainda, assumimos para nós os rótulos que nos foram atribuídos, e como isso vai refletir na nossa vida.

Em fim, leitura prazerosa, e muito boa para quem se preocupa em criar filhos emocionalmente saudáveis.