quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nossa experiência com cama compartilhada.


Quando Marina nasceu queríamos fazer tudo conforme manda o figurino, ou melhor, conforme as recomendações dos pediatras, educadores etc. Então fizemos o quartinho de Marina com muito amor, decorado pelo papai, com tudo que tem que ter...etc Decidimos por um berço também no nosso quarto, mas só para o primeiro mês, até que ficasse maior e depois disso eu levantaria para amamentar (hahahaha). 

Até então tudo lindo, afinal nossa bebê devia ter seu próprio quarto, seu ambiente, e um bebê no quarto dos pais tira a privacidade, além de ser perigoso para o bebê!!!! (Discursinho bem característico dessa nossa sociedade ocidental e capitalista e o pior é que a maioria de nós cai nessa) E foi assim, quando ela estava com quase dois meses passou para o quartinho dela (fica em frente ao meu), com babá eletrônica ligada no volume máximo para que ao menor sinal eu ou o pai pudéssemos ir até lá. Eu confesso que isso me incomodava muito, meu coração ficava apertadinho, eu pensava: eu gosto de dormir acompanhada, eu sou adulta e sei me proteger e minha filha tão pequena tem que ficar sozinha enquanto estamos eu e o pai dela no quarto ao lado? Me pareceu injusto, mas mesmo assim me mantive forte e continuei.

Os dias passaram e ficava cada vez mais difícil levantar várias vezes a noite, dar mamar, colocar para dormir e voltar para meu quarto. Daí o maridex passou a levantar, pegar Marina e levar para mim e íamos nessa,   só que ninguém dormia direito. Foi ai que apelei e comprei o famigerado livro Nana Nenê (ai que vergonha...), porque ela passava horas acordada de madrugada e sempre que falava com alguém me relatavam que seus filhos dormiam. É claro li o livro, mas achei cruel deixar chorar e fui em busca de mais informações, daí achei o MARAVILHOSO Dr Carlos Gonzales e seu livro Besame Mucho. Foi paixão a primeira lida! Me identifiquei de cara, o texto dele nos faz refletir sobre as expectativas exageradas que nossa sociedade põe sobre a díade mãe-filho, tentando afastá-los cada vez mais, pois essa é uma prerrogativa da sociedade moderna capitalista em que vivemos.

Separei uns trechos sobre o choro e o despertar noturno dos bebês:

"Os recém-nascidos necessitam do contato físico; provou-se experimentalmente que, durante a primeira hora depois do parto, os bebês que estão no berço choram dez vezes mais do que aqueles que se encontram nos braços da mãe.
Ao fim de alguns meses, é provável que se conformem com o contato visual. O seu filho ficará contente, pelo menos durante algum tempo, se a puder ver e se a leitora lhe sorrir e dirigir a palavra de vez em quando. Há 100 000 anos, as crianças de meses provavelmente nunca se separavam da mãe, porque isso significava ficarem no chão nus. Atualmente, estão bem protegidos num local macio, e, mesmo que o instinto lhe continue a dizer que estarão melhor ao colo, são tão compreensivos e têm tanta vontade de nos fazerem felizes que a maioria se resigna a passar alguns minutos na cadeirinha. Mas, assim que você desaparecer do
seu campo visual, o seu filho começará a chorar como se o estivessem a matar .
Quantas vezes se ouviu uma mãe proferir esta frase! Porque efetivamente a morte foi, durante milhares de anos, o destino dos bebês cujo pranto não obtinha resposta.
É claro que o ambiente onde criamos os nossos filhos é atualmente muito diferente daquele em que evoluiu a nossa espécie.
Quando a leitora deixa o seu filho no berço, sabe que ele não vai passar frio ou calor, que o teto o protege da chuva e as paredes, do vento, que não será devorado por lobos ou por ratos, nem picado por formigas; sabe que estará apenas a alguns metros, no quarto ao lado, e que acudirá prontamente ao menor problema. Mas o seu filho não sabe isso. Não pode sabê-lo.
Reage exatamente como teria reagido um bebê do Paleolítico. O seu pranto não responde a um perigo real, mas a uma situação, a separação, que durante milênios significou invariavelmente perigo".


"Onde dormiam os bebês há 100 000 anos? Não existiam casas, nem berços, nem roupa. Certamente que dormiam junto à mãe ou sobre ela, numa cama de folhas improvisada. O pai não devia dormir muito longe, e a tribo inteira permanecia apenas a alguns metros de distância. Só assim conseguiam sobreviver durante o sono, o momento mais vulnerável do dia.

Recordação daqueles tempos é o hábito de marido e mulher dormirem juntos e a desolação (por vezes verdadeira insônia) que nós, adultos, costumamos sentir quando uma viagem nos obriga a dormir separados do nosso parceiro habitual. Muitas mães, se o marido dorme fora de casa, deixam que os filhos venham para a sua cama e não é fácil dizer qual dos dois encontra mais consolo com a companhia.
Imagina um bebê sozinho, nu, a dormir no chão e ao ar livre, a cinco ou dez metros da mãe durante seis ou oito horas seguidas? Não teria sobrevivido."


E continua...



"Naquela tribo, há 100 000 anos, duas mães foram dormir com os filhos. Não sabemos exatamente como o faziam, mas sabemos o que fazem atualmente os chimpanzés: ao cair da noite, cada adulto prepara um leito macio com folhas e ramos e deita-se para dormir. Os chimpanzés não possuem camas de casal, o macho e a fêmea dormem separados (ainda que não muito afastados, é claro; na tribo, todos dormem perto uns dos outros). É claro que a mãe e o filho dormem juntos até que este complete cerca de cinco anos.

À meia-noite, aquelas duas mulheres primatas acordaram; por motivos que desconhecemos, afastaram-se, deixando os filhos no solo. Uma das crianças era daquelas que acordam a cada hora e meia; a outra era das que dormem durante toda a noite, num só sono.
Qual das duas crê que nunca mais acordou? Ou então acordaram ambas ao mesmo tempo, mas uma delas começou a chorar imediatamente e a outra apenas depois de cerca de três horas, quando começou a sentir fome. Qual delas morreu de fome? Uma começou a chorar imediatamente, enquanto a outra permaneceu calada até que o aparecimento de uma hiena a assustou. Qual delas terá a hiena comido? Uma delas, quando começava a chorar, só parava quando a mãe voltava e a acalmava; podia chorar meia hora, uma hora, todo o tempo necessário, até a exaustão. A outra, pelo contrário, chorava durante alguns minutos e, se
ninguém aparecia, voltava a adormecer. Qual das duas dormiu para nunca mais despertar?
Adivinhou: os nossos filhos estão geneticamente preparados para acordar periodicamente. Os nossos filhos herdaram os genes dos sobreviventes, dos vencedores da dura luta pela vida.
Não dormem de um só sono, pelo contrário, passam, como os adultos, por vários ciclos de sono durante a noite. A duração de cada ciclo é variável, entre apenas vinte minutos e um pouco mais de duas horas; a duração média vem a ser de hora e meia nos adultos, mas apenas de uma hora nos bebês. Entre cada ciclo, passamos por uma fase de despertar parcial , que facilmente se torna despertar completo.
Mesmo os especialistas que ensinam as crianças a dormir reconhecem esse fato; o objetivo dos seus métodos não é conseguir que a criança não acorde, isso é impossível. O que querem é que, quando acorda, em vez de chamar pelos pais, se mantenha calada até voltar a adormecer.
As crianças estão de guarda para se certificarem de que a mãe não se foi embora. Se o bebê consegue cheirar a mãe, tocar-lhe, ouvir a sua respiração, talvez mesmo mamar, volta a adormecer de seguida. Em muitas das vezes, nem a mãe nem o bebê despertam completamente.
Mas, se a mãe não está, a criança acorda completamente e começa a chorar. Quanto mais tempo tiver chorado antes que a mãe lhe acuda, mais nervosa estará e também mais difícil de consolar."



Depois de ler esse livro (de uma tirada só na madrugada entre as mamadas - hehehe) eu tive muito mais forças para admitir e por em prática tudo o que eu sentia e trouxe minha filha para perto de mim, foi uma alívio confesso. O livro nana nenê do Dr Estevil joguei no lixo, porque se não quero uma coisa para minha filha não quero para o filho de ninguém, então nem para emprestar serviria.


Ela voltou ao nosso quarto e passamos a fazer cama compartilhada/quarto compartilhado, pois uma parte da noite dorme em um berço colado na nossa cama e em outra parte ao meu lado. Ela ainda acorda a noite, mas volta a dormir bem mais rápido, mama e as vezes eu mesma nem percebo, acabamos desenvolvendo uma sincronia enorme e acordo ao menor suspiro dela, mas também geralmente volto a dormir com muita facilidade.

Sei que esse tema é polêmico, uns "especialistas" são contra outros a favor, mas acho que o que vale mesmo é o que você sente, o que é mais prático e correto para vocês. Aqui tem um artigo do laboratório de estudos econômicos da UERJ sobre o tema.

Uma coisa importante para quem quer fazer cama compartilhada é estar atento aos requisitos de segurança que temos que adotar,  aqui e aqui tem um material ótimo sobre o assunto (Material do Grupo - Soluções para noites sem choro e um Guia da UNICEF) é bom dar uma lida para adotar medidas de segurança adequadas para seu bebê.

Desculpem-me os pitaqueiros de plantão, mas nem adianta perguntar: _ e se ela sempre quiser dormir na cama de vocês? Minha resposta seria: você conhece algum adolescente que prefere dormir com os pais a ter sua privacidade em seu quarto? Pois é, sei que ela não vai dormir sempre assim, para tudo tem seu tempo. Essa é a resposta que estamos dando a demanda atual dela, depois virão outras. E para ser sincera, queria eu dormir sempre sentindo o cheirinho da minha magrina... vou aproveitar enquanto ela quer :)

E a intimidade do casal como é que fica? Bom, pitaqueiro que pergunta isso não tem lá muita imaginação não é? Se há amor e cumplicidade entre o casal sempre se arruma um jeito para namorar.

Em fim essa foi a forma que nós encontramos, a que nos adaptamos melhor, mas é certo que cada família encontra as suas próprias formas. Nem todas as crianças são iguais, assim como seus pais. De forma que tá valendo tudo, na mesma cama, em camas separadas no mesmo quarto ou em quartos separados, já dizia o jargão popular "cada um no seu cada um, e deixa o cada um dos outros", desde que haja amor e que você não deixe seu bebezico chorando.


3 comentários:

  1. Nessa epoca marininha tinha qtos meses? E dormiu no quarto cama compartilhado ate quando? Obrigada!

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    1. Oi Lanna,

      na época que postei esse texto ela tinha 7 meses, fizemos quato compartilhado até ela ter 2 anos. Com dois anos ela foi para o quarto em frente ao nosso, mas nossa porta está sempre aberta para ela. Agora ela está com 3 anos e 2 meses, o quarto continua sendo montessoriano, só que tem uma caminha de chão e sempre tenho um colchão de solteiro do lado eu ou o papai podemos ir se ela acordar.

      Mas a partir dos 2 anos e 6 meses o sono dela ficou bem mais regular e tem solicitado bem menos.

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  2. Muito obrigada Sabrina! Minha bebe dormia no quartinho dela e agr de 7 pra 8 meses nao qr mais dormir sozinha entao trouxe ela pro meu quarto e fiquei c peso na consciência achando q estava fazendo errado!

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