sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O brinquedo é meu! É meu, é meu, é meu!

Que mãe ou pai nunca passou por um momento de "crise" com direito a choro, protesto, birra e tals quando outra criança pega um brinquedo do nosso filho? Acho que todos, em maior ou menor grau, já passaram por isso.

O engraçado e que´, com Marina, os protestos se estendem aos pertences do pai e aos meus, ai já viu.... Mas ....Por que isso acontece? Como lidar com isso?  Vai ser sempre assim?

Geralmente a partir de 1 ano os bebês aumentam seu interesse pela socialização, começam a se interessar mais por outras crianças, animais, plantas, atividades ao ar livre, etc. Por outro lado também começam a desenvolver um sentimento de posse com seus objetos, como brinquedos, ou com objetos de seus familiares.


Com Marina acontece mais ou menos assim, ela está bem, brincando, toda feliz, mas basta alguma criança pegar um brinquedo dela ou brinquedo que ela estava brincando (no caso do parquinho) que ela corre para tomar o brinquedo e começa a chorar, mas chorar mesmo. Confesso a primeira vez que isso aconteceu eu fiquei sem saber o que fazer, esse comportamento me assustou, não sabia se socorria minha filha ou a outra criança que também estava chorando.

Passado o choque inicial fui racionalizar e tentar entender melhor o que acontece e lembrei do livro Besame Mucho do Dr Carlos Gonzales, lembrava que lá falava algo sobre e fui conferir. Olha que legal, ele faz a seguinte pergunta: Por que razão aprender a partilhar é algo de tão obsessivo para pais e educadores? Para que vai servir às crianças aprenderem a partilhar? Nós, adultos, não partilhamos quase nada.

Segue com o seguinte exemplo: 

"Isabel, que ainda não tem dois anos, brinca no parque com o balde, a pá e a bola, sob o olhar atento e carinhoso da mãe. Claro, como não tem mãos que cheguem, nesse momento apenas a pá está na sua posse, o balde e a bola encontram-se a uma certa distância.
Aproxima-se uma criança desconhecida, mais ou menos da mesma idade, senta-se ao lado de Isabel e, sem dizer palavra, agarra a bola de Isabel. Há dez minutos que Isabel não ligava à bola e, no início, continua a bater no chão com a pá. Tranquila? Um observador atento terá reparado que as pancadas são mais fortes e que Isabel vigia a bola pelo canto do olho. O recém chegado, por seu lado, parece plenamente consciente de que pisa terreno perigoso; afasta a bola, observa o efeito, volta a aproximá-la... Para que não haja lugar a mal-entendidos, Isabel adverte: É minha! E vê-se obrigada a especificar: A bola é minha! O intruso, que aparentemente não domina frases de três palavras (ou simplesmente prefere não se comprometer), limita-se a repetir: Bola, boooola, bola! Sem dúvida com receio de que estas palavras correspondam a uma reivindicação de propriedade, Isabel decide recuperar a posse plena da sua bola verde. O intruso não oferece demasiada resistência, mas, num descuido, consegue agarrar no balde.
Isabel brinca durante uns minutos, satisfeita, com a bola recém-recuperada, mas logo se inquieta. E o balde?
Mas onde iremos parar?
Podemos passar assim metade da tarde. Umas vezes Isabel cederá de boa vontade durante alguns minutos, um dos seus brinquedos. Outras vezes, acabará por tolerá-lo de má vontade. Outras ainda, não o vai tolerar de todo. Por vezes, ela mesma oferecerá ao menino a sua própria pá em troca do próprio balde. Pode haver algum choro e gritos de ambas as partes; mas, em todo o caso, é provável que o seu novo amigo consiga bastantes momentos de brincadeira relativamente pacífica.

É muito possível também que ambas as mães intervenham. E aqui se produz algo que nunca deixa de me surpreender: em vez de defender como uma leoa a sua cria, cada uma das mães se põe do lado da outra criança. Vá lá, Isabel, empresta a pá a esse menino. Vamos, Pedrinho, devolve a pá à menina.

No melhor dos casos, as coisas ficarão por estas suaves exortações; mas, não poucas vezes, as mães competem em generosidade (porque é fácil ser generoso com a pá dos outros!): Vá lá, Isabel, se te portas assim, a mamã vai aborrecer-se! Pedrinho, pede desculpa agora mesmo ou vamos embora! Deixe-o, minha senhora, deixe-o brincar com a pá! Ela é uma egoísta... E o meu é terrível, tenho de estar sempre atrás dele, porque está sempre a aborrecer os outros meninos e a tirar-lhes coisas... E, assim, acabam os dois de castigo, como pequenos países em conflito que poderiam facilmente ter chegado a um acordo amistoso, se as superpotências não tivessem intervindo.

Cenas como estas, repetidas mil vezes, fazem com que por vezes consideremos os nossos filhos egoístas. Nós sem dúvida que partilharíamos uma pá de plástico e uma bola de borracha.

Mas será mesmo porque somos mais generosos do que eles ou são os brinquedos que não nos interessam?

É necessário colocar as coisas em perspectiva. Imagine que é você quem está sentada num banco do parque a ouvir música. Ao seu lado, sobre o banco, está a mala sobre um jornal dobrado. Nisto aproxima-se um desconhecido, senta-se ao seu lado e, sem dizer palavra, começa a ler o seu jornal. Pouco depois deixa o jornal (aberto e atirado para o chão!), agarra na mala, abre-a, olha para o seu interior... Será que a leitora saberia partilhar? Quanto tempo esperaria para dizer duas verdades ao desconhecido ou para agarrar na mala e sair a correr? Se visse passar um polícia ao longe, não o chamaria? Imagine agora que o polícia se aproxima e lhe diz:

- Vá lá, dê a sua mala a este cavalheiro ou ficarei aborrecido. O senhor desculpe, mas esta senhora não sabe partilhar... Gosta do celular? Telefone, telefone para onde quiser... A senhora cale-se, se continua a protestar, vai ver...

A nossa disposição para partilhar depende de três fatores: o que emprestamos, a quem e durante quanto tempo. A um colega de trabalho poderemos emprestar um livro durante semanas, mas aborrece-nos que um desconhecido mexa no nosso jornal sem pedir licença. Só a um grande amigo ou a um familiar emprestaríamos o automóvel para ir passear. 

Uma criança pequena tem poucas coisas suas, e um balde, uma pá ou uma bola são tão importantes para ela como para nós a mala, um computador ou uma mota. O tempo parece longo e emprestar um brinquedo durante uns minutos é tão difícil para ela como para o pai emprestar o automóvel durante alguns dias. E também é diferente quando se trata de amigos ou de desconhecidos, mesmo que não estejamos conscientes disso. Por exemplo, qual destas duas frases usaria a mãe de Isabel para resumir as histórias que contamos?

a) Enquanto a Isabel estava a brincar na areia com um amigo, um desconhecido agarrou no meu jornal e quase me roubou a mala. Que susto!
b) Enquanto eu e um amigo brincávamos com a minha mala, um desconhecido tentou tirar a bola da Isabel. Que susto!

Claro que, do ponto de vista de um adulto, qualquer criança de dois anos, indefesa e inocente, é um amiguinho. Mas quando se mede menos de um metro, um menino de dois anos é um desconhecido e pode mesmo ser um indivíduo com intenções suspeitas.

Depois de reler isso fiquei até envergonhada, porque para mim era muito fácil forçar Marina a dividir, ou seja, faltava empatia, faltava me colocar no lugar e na perspectiva dela. Passei a entender que isso acontece com todo mundo, e que no caso dela, com 1 ano e 4 meses, está em pleno início da construção de sua identidade e tudo que a cerca, incluindo seus brinquedos faz parte dessa construção.

Beleza, é natural, acontece... mas, qual a melhor maneira de lidar? Essa parte tentei lidar na intuição mesmo, seguem algumas dicas que pus em prática e ajudaram (por enquanto - hehe):

a) Mantenha a calma, não é o momento de entrar em disputa com seu filho.
b) Chame atenção para algo divertido que todos possam compartilhar.
C) Transforme a birra em brincadeira

Exemplificando: Esta semana ela estava com o sonzinho dela largado no chão brincando em um balancinho no parque, aproximou-se uma bebê um pouco mais velha e  pegou o brinquedo, daí ela saltou de onde estava, e foi pegar o sonzinho de volta aos pratos. Aproveitei a situação para "agir", acalmei ela, peguei o sonzinho, dei um disquinho para cada uma e incentivei as duas a encaixarem os disquinhos uma de cada vez, assim comigo ao lado ela se acalmou e participou da brincadeira, depois chegou outro garotinho que também entrou na brincadeira e assim passamos um bom tempo. Resumo: ela aceita partilhar mas se ela estiver incluída também. Fiz isso em mais duas oportunidades e deu certo, o choro diminuiu, ela acalmou e curtiu a brincadeira.

Por último: Vai ser sempre assim? Não tenho a resposta mas acredito que não, eles vão crescendo e mudando, aprendendo e nos surpreendendo.

Eu quero que Marina seja uma pessoa legal, que saiba vivem em comunidade de forma civilizada, que seja empática, mas não seria um contrassenso ensinar a ela a dividir as coisas de forma forçada? Simplesmente obrigando e pronto? O que ela aprenderia com isso?

É claro que essa abordagem que estou usando foi a que achei mais apropriada para ela que é uma bebê ainda, para crianças maiores, que já se comunicam melhor creio que apenas essa abordagem não é suficiente, nesse caso conversar francamente com a criança é sempre bom, e por último vale sempre lembra que nós somos o exemplo deles. Como podemos esperar que nossos filhos sejam generosos se nós mesmos não o somos?


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