domingo, 29 de maio de 2016

Filha querida

Filha querida, meu amorzinho, esses dias estão confusos, não é a bagunça de brinquedos pela casa, não são os preparativos para sua pequena comemoração de aniversário, nem os pequenos transtornos do dia a dia. É um sentimento que não consigo ainda te explicar, e você na pureza de sua infância não precisa e não deve compreender.

Tristemente tenho visto o recrudescimento da intolerância, da violência e do preconceito. Tenho visto espantada o machismo matar, matar muitas de nós, meninas como você, como eu fui um dia, e isso me tira o sono. Como te proteger disso tudo?  Como te proteger desse movimento que está ai, defendido por bancadas conservadoras, que culpabilizam a vitima, querem ter o domínio sobre o nosso corpo, sobre nossa vontade, sobre nossa existência?

Não sei bem o caminho, mas minha flor, o que eu sei é que nós mulheres somos muito poderosas, tão poderosas que temem o dia que todas nós vamos em fim saber desse poder. Enquanto esse dia não chega, vou te acompanhando, segurando tua mão e te enchendo de afagos e de carinho, para que você saiba o quanto importante você é, que você, como mulher que é ,tem esse poder dentro de você. 

Mas meu amor, nem todas as mulheres tem a sorte que eu e você temos, nem todas tem uma rede de pessoas boas ao entorno. Quero que você saiba que todas as mulheres são igualmente belas, fortes, importantes mesmo que elas ainda não saibam disso. É por isso minha pequena, que te digo desde sempre (apesar de você ainda não entender isso muito bem) que uma mulher sempre deve apoiar outra mulher, então minha flor, não julgue, não desmereça, não ignore , apoie, apoie sempre.








sexta-feira, 29 de abril de 2016

Educar, amar, respeitar, construir... Agradecer.


Muito se fala que a geração atual é uma geração conectada, da informação, da agilidade do pensar que domina desde sempre a tecnologia, afinal nasceu imersa neste mundo. Mas não é bem isso que venho reparando, veja só, sou professora em uma universidade federal, lido diariamente com jovens entre 17 e  25 anos e o que percebo é que eles tem uma enorme dificuldade de se aprofundar em qualquer assunto. Eles tem domínio das mídias sociais, mas precário domínio das ferramentas de internet e/ou de informática. Vejam bem, em sua maioria esses jovens sabem dar um "google" mas não tem a mínima ideia do que é um operador booleano, usam facebook, instagran e etc, mas não dominam uma planilha de dados, e isso é muito, mas muito comum. E muito pior, não dão conta de ter discordâncias sem brigar, de esperar, de ter paciência... possuem vasta informação mas escaço conhecimento.

Dito isto, me volto para os pequenos e o que vejo? Pais, avós, tios e tias se gabando que uma criança de 2 anos sabe ver um vídeo no youtube ou joga um joguinho no tablet. Dia desses observei uma garotinha, ela assistia videos no celular do pai enquanto esperava uma consulta, bom, ela assistia no máximo 10 segundos de cada vídeo e já mudava para outro e assim foi por uns 10 minutos ou mais.

Então, muito tristemente observo esta superficialidade sendo cada dia mais a regra. A mim parece que temos, cada dia mais, preguiça (ou medo) de pensar, refletir, contestar... Acabamos por aceitar o discurso normalizador e tentar nos enquadrar no modelo proposto.


E quando o assunto é criança e educação infantil parece que tem fórmula pronta... quando fui buscar escola para Marina a primeira vez me choquei com a quantidade de absurdo que vi (TV na sala de aula, Mucilon sendo colocado na apostila quando iam trabalhar com alimentos, Oferecimento de tablets, Vender como vantagem o parque ser totalmente emborrachado e por ai vai...). Acabei escolhendo uma escola realmente construtivista e que tinha bastante espaço aberto e parque com areia, aliás gosto muito desta escola até hoje apesar de algumas discordâncias.

No entanto, sempre acreditei em uma liberdade do brincar, do ser criança que as escolas normalmente não oferecem, aliado a isso, a própria Marina nunca se enquadrou bem neste modelo normalizador. Obvio que ela não contestava conscientemente, mas nunca se mostrou muito feliz com competições, apresentações formais, e com o ritmo imposto no modelo mais tradicional (muito embora construtivista) da antiga escola.

Acontece que ano passado passei a frequentar um grupo de pais que pensava parecido e que estava se organizando para abrir um jardim de infância. Juntamo-nos a este grupo, e iniciamos uma jornada para a construção deste espaço que finalmente abriu este ano, o Jardim Semear, um jardim de infância com inspiração Waldorf.

Venho acompanhando as mudanças em Marina desde então, da alimentação (o lanche é feito junto com as crianças e é coletivo, sempre natural e saudável) a forma de brincar. Como na pedagogia Waldorf entende-se que durante o primeiro setênio o aprendizado dá-se principalmente pela imitação e não pelo processo de educação formal, o brincar livre é mais valorizado, pois é justamente neste espaço que a criança experimenta, repete o que observou, aprende tanto emocionalmente quanto cognitivamente. Além disso é livre para imaginar, testar os limites do corpo, ter equilíbrio, desenvolver a coordenação motora e outras habilidades que não saberei explicar corretamente ainda.

Ma posso falar do que vejo na minha filha. É uma criança que me pede para desligar a TV, está muito mais imaginativa, segura, que vem testando os limites do seu corpo, subindo, descendo, tentando, com suas pequenas mãos fazer alguns artesanatos. E sabe o mais engraçado? A despeito de não ter aulas formais, ela vem apresentando uma sede de saber que não tinha antes. E vem, mesmo que a seu ritmo, pedindo para aprender algumas palavra, essa semana me pediu para ensinar a escrever o nome do pai dela, ensinei, e ela ficou muito orgulhosa por ter conseguido escrever o nome dele.



Outra mudança que percebi hoje, essa mais sutil, mas para mim importante, Ela, desde sempre anda de ponta de pé, e por isso, ou por outros motivos que não consigo explicar, sempre apresentou lesões nos dedos mindinhos dos pés. Uma homeopata uma vez me disse que essas lesões eram uma forma do corpo dela lidar com a ansiedade... em fim... desde um ano ela sempre tem essas lesões, as vezes maiores outras vezes menores. E hoje pela primeira vez ao acariciar-lhe os pés após ela dormir notei que as duas estão cicatrizadas, na hora achei que era justamente por isso... a energia dela agora tá na terra, ta no chão... ta na lama, no banho de mangueira e ela tá se permitindo muito mais do que sempre fez. Meu coração de mãe está em festa, gratidão do tamanho do mundo as professoras Bel, Germana e Rúbia que com tanto amor estão ajudando a Marina nessa primeira caminhada.

Então aqui estamos nós, meio que na contramão, quase sem eletrônicos, com menos brinquedos, bem menos TV, nada de tarefinhas escolares tradicionais, sem pressão para fazer uma apresentação de dia das mães... mas certa de que a inteligência emocional e afetiva dela está muito bem cuidada.






segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Calendário do Advento

Amanhã já é dezembro e estou aqui terminando um calendário do advento para Marina e resolvi compartilhar.

Para quem não conhece este calendário é uma espécie de contagem regressiva para o natal, segundo informações os primeiros calendários surgiram na comunidade Luterana Alemã por volta do sec XIX. Tradicionalmente fazia-se apenas a contagem regressiva para a véspera de natal, alguns liam passagens bíblicas, ascendiam velas, ou colocavam ornamentos como anjos a cada dia.

A proposta atual, no entanto, é mais lúdica, o calendário pode ser feito de diversos materiais e formas, desde que tenha as datas do dia 1 ao 24/25. A ideia é que em cada dia tenhamos uma surpresa diferente, ou uma atividade relacionada ao natal a ser feita com a criança. Na internet tem varias dicas, eu preparei a nossa listinha baseada nos gostos de Marina e nas mensagens que desejo passar para ela.

Aqui vai nossa lista:

1. Ouvir a história do nascimento de Jesus;
2. Fazer um cartão de Natal para presentear a vovó e o vovô;
3. Ir para a cozinha com as primas fazer biscoitos de gengibre;
4. Inicio da montagem do presepio: Céu, estrelas e terra;
5. Ler um livro sobre o natal (Vamos ler o natal de Simon);
6. Separar brinquedos e roupas para doação e empacotar tudo para presente;
7. Caça ao tesouro;
8. Fazer um presente caseiro para o papai;
9. Montagem do presépio: animais e pastores;
10. Fazer enfeites de papel para a árvore de natal;
12. Ir ver a decoração de natal na orla;
13. Montagem do presépio. Maria e josé
14. Ouvir história do nascimento de Jesus e desenhar;
15. Escrever uma cartinha ao Papai Noel;
16. Fazer presente caseiro para a mamãe;
17. Montagem do presepio: Reis Magos;
18. Aprender e cantar canções de natal;
19. Ajudar alguém (penso em ir visitar uma insitutição para idosos com ela e levar presentes)
20. Fazer presente caseiro para a Mamãe;
21. Assitir um filme (ainda não escolhi);
22. Ver fotos dos natais antigos (da mamãe e papai quando eram pequenos) e escutar histórias de como era o natal;
23. Fazer os bolos tradicionais da família (casamenteiro e rio grande);
24. Colocar o menino Jesus no Presépio e participar da ceia de natal;
25. Ao acordar abri os presentes de natal.

Aqui vão algumas inspirações que terei do pinterest









quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Menos brinquedo e mais brincadeira: Fitas


Sabe quais são as lembranças mais fortes da minha infância? Das brincadeiras com meus pais, do campeonato de volei que meus pais organizaram no quintal, das brinacdeiras de comidinha, que minha mãe me permitia, das tardes em cima do pé de goiaba que ficava no quintal.

O meu presente de natal favorito foi um ursinho com um relógio muito simples, hoje minha mãe me conta que naquele natal eles não tinham dinheiro para presentes e foram ao centro da cidade e o  melhor que conseguiram comprar foi um ursinho pequeno e com a sobra esses reloginhos digitais de plático. Nossa, eu adorei o ursinho e o relogio, adorei mesmo.

Falei isso porque as vezes agimos no automático, acabamos comprando brinquedos e mais brinquedos e esquecemos dessa essência, sabe, provavelmente seu filho não vai lembrar de todas as Barbies, Princesas, nem de todos os Max Still, Homens Aranha que ganha. Muito provavelmente nem vá lembrar em que situação ganhou esse ou aquele brinquedo. Creio que um dos motivos para isso acontecer seja que damos brinquedos demais, eles são mais acessíveis hoje em dia, e é inegável a pressão a propaganda infantil nas vidas das nossas famílias.
Pipa de mão - esse é um brinquedo waldorf



Como falei aqui a proposta para esse mês é tentar brincar mais e consumir menos, e para isso vou tentar dar umas dicas de brinquedos e brincadeiras para fazer em casa.

E vamos começar com uma coisa que quase todos tem em casa:

Fitas, barbantes e/ou lã.


Fitas são mágicas, de verdade kkkkk experimentem cortar um bom pedaço  de fita (1.5m mais ou menos), prender em uma haste qualquer (pau de churrasco sem a ponta, vara ou qualquer outra coisa que vc tenha), faça um para você também, coloque uma música que vocês curtem e deixe a imaginação rolar, é muito divertido.



Circuito que fiz no corredor do apartamento, usei
lã e fita crepe.

Variações dessa brincadeira: prender com cargolas, fazer um laço e prender um pesinho, ou usar a fita sem nada. 


A fita vai virar de tudo, agitando no chão vocês podem pular tentando se desvencilhar dela (Marina chama essa brincadeira de cobrinha), agitando no ar, fazem movimentos lindos, e se tem espaço para correr melhor ainda.


Com fitas, barbante ou lã podemos fazer circuitos como esse da foto ao lado que eu fiz para Marina no corredor do apartamento, é simples e muito divertido.

Outra coisa legal é fazer furo em uma cartolina ou garrafa pet e dar para que a criança passe a fita pelos bracos, você pode desenhar um tenis e usar a fita como cadarço por exemplo. Na internet tem muitos modelos, se você não desenha pode imprimir e colar.

Outra coisa que deve ser linda de se ver é encher um bambolê de fitas e empendurar baixo para a crinaça explorar, esse ainda não fiz com por aqui mas está na minha lista, brevemente farei um para Marina e as priminhas brincarem.

E ai, animaram-se... existem muitas outras possibilidades, estou trazendo só algumas. Então simbora meu povo, peguem aquela fitinha, lã ou barbante que estão por ai esquecidos e deixem sua criança brincar com ele, e se possível brinquem juntos também. Boa brincadeira.



terça-feira, 29 de setembro de 2015

Vamos brincar?







Café da manhã - piquenique na sala.
Usei a manta do sofá como toalha, de resto
Temos nosso café normal.

Por um mundo com menos brinquedos e mais brincadeiras.


Uma das coisas que mais fazemos aqui nessa casa é brincar e inventar brincadeiras, das mais diversas e variadas. Além disso inventamos fantasias e brinquedos com tudo o que temos disponível.

Já experimentaram deixar seu filho guiar a brincadeira? Se nunca fizeram experimentem. Vão ficar espantados com a capacidade deles de construir uma narrativa, inventar uma história, achar um novo uso para um objeto e assim por diante... Marina me espanta muito, fico maravilhada com toda essa criatividade e imaginação, características das crianças.

Pinturas com tintas, lápis de cor ou giz de cera são sucesso absoluto.








Para ela fraldas velhas podem ser desde capas de super-heroínas ou princesas, vestidos, slings, ou até cauda de sereia... basta amarrar de uma forma diferente. E o que dizer do papelão, bem o papelão é mágico, tem infinitas possibilidades, uma boa caixa, de bom tamanho, garante diversão por vários dias. Já fizemos muitas coisas, de móveis para apoiar brinquedos, casinha de boneca, carro, barco e hoje acabamos de pintar o que vai ser amanhã um teatro de fantoches.

Se não convenci ninguém até agora do poder fantástico do brincar aqui vão meus motivos enumerados:







Imitando a mamãe e o papai nas atividades
 da vida prática bem ao estilo Montessori.
1. É muito bonito, ver o brilho nos olhos e a empolgação com cada novidade que inventamos;

2. Ouvir "mamãe você faz?"ou ainda "mamãe vamos fazer?" ao invés de "mamãe você compra", dá um orgulho danado (o efeito colateral é que a pequena criatura acha que a mãe sabe fazer tudo e as vezes quer que eu faça algo que não consigo - hehe)

3. As crianças passam a dar mais valor as coisas simples, passam a querer consumir menos , ou seja, você tá no caminho de criar um consumidor mais consciente.

4. Vocês terão horas muito felizes juntos, estreitarão ainda mais sua relação.

5. Cada brincadeira/brinquedo traz consigo um desafio, uma qualidade ou uma habilidade que pode ajudar e muito no desenvolvimento do seu pequeno (mas sem forçar a barra, certo? não precisa ficar direcionando a brincadeira para desenvolver essa ou aquela habilidade)

6. Quando brincamos com eles, eles não pedem para ver TV. A TV ocupa um lugar grande na vida dos pequenos por conta do ócio e não por vontade, se tiverem que escolher entre brincar e ver TV vão querer brincar.

Poderia citar muitos outros motivos, mas esse já são muitos. Uma única caixa de papelão  + uma mamãe/papai/cuidador receptivo ao brincar podem operar verdadeiros milagres. Deixo vocês com algumas ideias, já testadas e aprovadas aqui em casa.


Caixa de papelão pode virar:

1. Carrinho, barco, avião;
2. Casinha de boneca, barraca, castelo, casinha,
3. Teatro de fantoches;
4. Nicho para por brinquedos;
5. Base para jogos de tabuleiro e encaixe;
5. Robôs, dinossauros e tudo mais que a imaginação permitir.

Teatro de fantoches com caixa de papelão e
personagens desenhados ou impressos em cartolina.

Fita adesiva é ótima para fazer trilhas, marcar circuitos, fazer pistas para carrinhos.

Tecido pode virar qualquer fantasia, ou servir para fazer rede ou slings para as bonecas. Pedaços de tecido grande ou fitas também são ótimos, Marina, Leia e Ester brincam muito com eles, fazendo verdadeiras danças com as fitas no ar, parece muito com ginástica rítmica, só que com uma cadência própria das meninas.

E os utensílios de casa potes, vasilhas, talheres e panelas...viram instrumentos, prédios e até a "caixa de vidro da Branca de Neve (palavras de Marina)"

Meias que viram patins para patinar na "neve" alagoana :)












E tem mais uma infinidade de coisas, basta querer, não precisa de talento, só precisa se permitir, se deixar levar e não ter medo do ridículo, até porque não há ridículo. 


Eu acredito que brincar é para a criança, assim como o leite materno é para o bebê, fundamental, necessário, vital. Assim vou começar uma campanha aqui no blog, vou tentar postar esse mês que vem uma brinacdeira e um brinquedo para fazer em casa com os pequenos, que tal?


Vamos dar esse presente as nossas crianças? Que tal separar ao menos uma brincadeira especial por semana para fazer com os pequenos?

















segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A culpa é da mãe!

Se tem uma coisa que caminha de mãos dadas com a maternidade é a culpa. Começa já na gravidez e acredito que perdure a vida toda... mas vocês já se perguntaram porque sempre tanta culpa? Porque sempre a mãe?

Recentemente vem rolando nas redes sociais a foto de uma menina de dois anos, linda, linda... do antes e depois dela, ao alisar os cabelos. Eu como a maioria das pessoas acho um absurdo alisar os cabelos de uma menina assim, pelo risco da química, pela desconstrução da sua identidade, pela valorização de um padrão de beleza eurocêtrico e porque o cabelo dela era lindo demais :)

Mas cá para nós, alguém ai leu os comentários? A mãe só não foi chamada de santa como diria minha avó. Desqualificaram ela e a maternidade que hora ela exerce. Eu não estou aqui defendendo que os pais podem fazer o que querem com seus filhos... longe disso, acredito que as crianças são pessoas com identidade própria e o que eu como adulto devo fazer é guiá-la, mas sem ferir sua dignidade e ajudando-a a se descobrir, não é essa a questão. A questão meus caros reside em outra esfera.

Ninguém conseguiu ter o mínimo de empatia com aquela mãe, qual é a história de vida dela? Porque ela valoriza tanto um certo padrão estético a ponto de expor sua filha tão pequena a tecnicas de alisamento? Será que ela realmente não acredita que estava fazendo o melhor para sua filha? Que estava a protegendo de sofrer preconceito? A ser mais aceita? Ou essa não é uma realidade em nosso país?

Eu sou considerada branca pelo padrão brasileiro (la fora nunca seria considerada branca, não é engraçado?) Não sei o que é ser discriminada pela minha cor, pelo meu cabelo, sofri e sofro outros tipos de preconceitos, mas este não. Porém não é por isso que eu não reparo no preconceito sofrido diariamente por colegas, amigos, parentes, que são negros. Certamente estou loge de realmente sentir isso na pele, mas não sou babaca ao ponto de negar que exista preconceito racial no Brasil.

Dito isto, retorno a questão da mãe da menininha, vi muita gente comentando, mas quase ninguém pensou nessa perspectiva que aqui apresento, ao contrário não pouparam palavras para xingar a mãe.

Isso mexe comigo, porque sempre percebo esse movimento, de culpar a mãe e só a mãe, é tragicômico: se uma menina engravida na dolescência perguntam logo cadê a mãe?, se há um menor infrator, a culpa é da mãe, se decide ter muitos filhos e é pobre, é uma vaca parideira, preguiçosa que quer viver do bolsa família, se amamenta um bebê maior, tá prejudicando o filho que vai ficar muito dependente, se não amamenta não é boa mãe e por ai vai... não importa o que faça e o que aconteça a culpa é sua mãe!

Nisso tudo, só lembrei de uma entrevista com a mãe do Bolsonaro, tadinha, uma senhorinha de seus 80 e la vai... tendo que se justificar publicamente pelo comportamento de um marmanjo.

É inegável a influência que temos na vida de nosso filhos e por conseguinte nos adultos que eles se tornam, mas vou revelar um segredo importante, crianças também tem pais! Preparados para mais uma? Elas também tem avós, tias e tios, irmãos, professores, babás e toda uma rede de pessoas que interagem com ela. E por ultimo, seres humanos são, em parte, reflexo do contexto social e cultural (familiar, religioso, acadêmico e etc) no qual se inserem, e as mães, por incrível que pareça também são seres humanos.

Então minha gente, mais amor e menos ódio, mais empatia pelo próximo. Entendo que temos que defender o mais vulnerável sempre (nesse caso a criança) mas existem "N" formas de fazer isso, e atarcar a mãe não vai ajudar em nada... 

Não é uma questão de dizer "culpa não" de forma desconexa e irresponsável, como na campanha daquela famosa revista. Ao contrário, é saber que a criança é um ser em formação, ela deve ser prioridade para todos, mas quando as coisas não "andam como se espera"não adianta apenas jogar pedra na mãe, vamos ver outras formas de mudar a realidade? Informação, educação e empoderamento não se transmitem por osmose, então meus caros acolham e ajudem... só assim mudamos a realidade.


terça-feira, 9 de junho de 2015

Nossa experiência com a amamentação e o desmame

Antes de começar quero deixar bem claro que sou a favor do aleitamento materno em livre demanda, exclusivo até o sexto mês e continuado por dois anos ou mais, vou tentar aqui relatar como foram nossos 2 anos e 8 meses de amamentação.

Para inicio de conversa, nossa história de amamentação não começou nada bem, tive com rachaduras nos seios, e a pega estava incorreta, tudo causado pela falta de orientação na maternidade, dos médicos e enfermeiros que nos acompanharam. Mas minha vontade de amamentar, e a certeza de que o leite materno era o melhor alimento para minha filha me fez ir  atrás de informação, mesmo que de forma tardia pois já estava com minha filha nos braços, isso deveria ter sido feito ainda durante a gravidez. Encontrei ajuda em blogs e grupos virtuais de apoio a amamentação. Para além do mundo virtual os bancos de leite oferencem esse tipo de orientação de forma gratuita e são ótima opção, aqui segue o link da Rede Brasileira de Banco de Leite Humano, vale a pena dar uma conferida em qual é o mais próximo de sua casa.

Depois de acertar a pega e curar as rachaduras, em mais ou menos 10 dias já estava tudo certo. Para as rachaduras nada de pomada, o melhor é passar o próprio leite após a mamada, um banhosinho de sol e evitar umidade, por isso esqueça as conchas de amamentação, minha obstetra me ensinou a usar peneiras pequenas dentro do sutiã (fica horrível mas funciona) para evitar o contato do bico do seio com o tecido e deixar o ar circular.

Aqui cabe uma ressalva: eu achava que amamentar devia ser tão natural que eu não me preocupei muito, mas me enganei. Na verdade o insucesso de muitas mulheres em amamentar se dá justamente por isso, os profissionais de saúde não orientam como deveriam, e a rede de apoio familiar para a puerpera quase que não existe mais, infelizmente, nós estamos cada dia mais sós, não é mais como antigamente em que as mulheres pariam e tinham mães, primas, avós aos redor a partilhar experiência e cuidados. Na verdade a maioria de nossas mães nem amamentou, porque na época  a regra era o uso de leite em pó, que era estimulada não só pela industria mas também por médicos e enfermeiros.

Depois de superadas as primeiras dificuldades foi tudo maravilhoso, a sensação de nutrir um filho, de acalanta-lo  é inexplicável, é maravilhosa, você passa a ter uma relação melhor com seu corpo, hoje amo mais meu corpo do que antes da minha filha.

Marina seguiu mamando muito em todo seu primeiro ano de vida, quando fez um ano um novo problema surgiu: o estranhamento social à amamentação de um bebê maior de um ano. Não é comum por aqui, as pessoas são desinformadas e há muito preconceito quanto ao tema. Passei a houvir muito que ela estava chupetando meu peito, que o leite não servia mais. 

Seguimos, nós duas, com a amamentação, e foi muito bom para nós, quanto as críticas e olhares de reprovação minha saída foi fazer ouvido de mercador.

Já no final de agosto de 2014, quando ela estava com 2 anos e 4 meses, eu comecei a ficar muito impaciente e cansada com a amamentação noturna (madrugada a dentro, umas 4 ou 5 vezes), me senti culpada por esta impaciência, mas não estava mais aguentando não dormir a noite toda, além disso Marina deu uma queda grande na curva de crescimento o que foi um sinalizador de um possível problema relacionado a sono. Chorei muito, refleti, pensei, sofri, mas finalmente  resolvi então implementar o desmame noturno, usando a tecnica do Dr Gordon, com algumas adaptações.

Iniciei conversando com ela, falando francamente que a mamãe estava com o mamá muito cansado e que a noite nós iríamos dormir juntinhas, eu ia fazer carinho, mas o mamá iria dormir a noite toda e ela ia mamar novamente pela manhã. Conversei por umas duas semanas até tomar coragem para implementar, primeira noite, mamou dormiu, lá pelas 02:30 primeira acordada para mamar, eu fiquei do lado, abracei, ninei, beijei, mas não dei o peito... ela chorou, e eu sempre do lado com ela nos braços, consolando. Nesse processo a participação mais ativa do pai, revezando comigo foi fundamental. Me senti péssima mãe, e caí no choro algumas vezes. Não foi fácil, mas foi necessário no nosso caso. Com uma semana ela estava dormindo melhor a noite, e mamando apenas durante o dia.

Aqui uma pausa para ser bem sincera, ela é uma criança que tem o sono muito inquieto e leve, então passou a dormir melhor, mas ainda acordava vez ou outra, e foi melhorando aos poucos, mas ainda hoje (com 3 anos recém feitos) ela acorda as vezes, ou seja, não é milagre, tirar a mama não é a solução para o bebê dormir a noite toda, vai variar muito de criança para criança.

Após o desmame noturno continuamos cama compartilhada e a amamentação em livre demanda durante o dia. Após essa adaptação aos pucos fomos reduzindo a livre demanda (que rolou solta por 2 anos e 4 meses), até chegar ao ponto de mamar apenas ao acordar e dormir. Esse foi um processo de uns 4 meses mais ou menos, e o desmame total só aconteceu quando Maricota estava com 2 anos e 8 meses.

Recentemente (acho que faz uns 2 meses) ela pediu para mamar e eu dei, mas ela não gostou e perguntou porque meu mamá tava ruim, e depois disso nunca mais pediu. E foi assim que esse ciclo da vidinha dela e da minha se encerrou, foi uma experiência maravilhosa, se tiver outro bebê faço tudo de novo. E sabe do quê mais? A gente realmente esquece das noites mal dormidas, só o que fica é a lembrança maravilhosa de ter aquele bebezinho nos braços e conseguir nutri-lo com seu próprio corpo, e o olhar de imenso amor e afeto que recebemos dos nossos filhos, esse olhar paga tudo, é uma das minhas mais belas lembranças de vida, sou muito grata por ter podido viver tudo isso.