segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A culpa é da mãe!

Se tem uma coisa que caminha de mãos dadas com a maternidade é a culpa. Começa já na gravidez e acredito que perdure a vida toda... mas vocês já se perguntaram porque sempre tanta culpa? Porque sempre a mãe?

Recentemente vem rolando nas redes sociais a foto de uma menina de dois anos, linda, linda... do antes e depois dela, ao alisar os cabelos. Eu como a maioria das pessoas acho um absurdo alisar os cabelos de uma menina assim, pelo risco da química, pela desconstrução da sua identidade, pela valorização de um padrão de beleza eurocêtrico e porque o cabelo dela era lindo demais :)

Mas cá para nós, alguém ai leu os comentários? A mãe só não foi chamada de santa como diria minha avó. Desqualificaram ela e a maternidade que hora ela exerce. Eu não estou aqui defendendo que os pais podem fazer o que querem com seus filhos... longe disso, acredito que as crianças são pessoas com identidade própria e o que eu como adulto devo fazer é guiá-la, mas sem ferir sua dignidade e ajudando-a a se descobrir, não é essa a questão. A questão meus caros reside em outra esfera.

Ninguém conseguiu ter o mínimo de empatia com aquela mãe, qual é a história de vida dela? Porque ela valoriza tanto um certo padrão estético a ponto de expor sua filha tão pequena a tecnicas de alisamento? Será que ela realmente não acredita que estava fazendo o melhor para sua filha? Que estava a protegendo de sofrer preconceito? A ser mais aceita? Ou essa não é uma realidade em nosso país?

Eu sou considerada branca pelo padrão brasileiro (la fora nunca seria considerada branca, não é engraçado?) Não sei o que é ser discriminada pela minha cor, pelo meu cabelo, sofri e sofro outros tipos de preconceitos, mas este não. Porém não é por isso que eu não reparo no preconceito sofrido diariamente por colegas, amigos, parentes, que são negros. Certamente estou loge de realmente sentir isso na pele, mas não sou babaca ao ponto de negar que exista preconceito racial no Brasil.

Dito isto, retorno a questão da mãe da menininha, vi muita gente comentando, mas quase ninguém pensou nessa perspectiva que aqui apresento, ao contrário não pouparam palavras para xingar a mãe.

Isso mexe comigo, porque sempre percebo esse movimento, de culpar a mãe e só a mãe, é tragicômico: se uma menina engravida na dolescência perguntam logo cadê a mãe?, se há um menor infrator, a culpa é da mãe, se decide ter muitos filhos e é pobre, é uma vaca parideira, preguiçosa que quer viver do bolsa família, se amamenta um bebê maior, tá prejudicando o filho que vai ficar muito dependente, se não amamenta não é boa mãe e por ai vai... não importa o que faça e o que aconteça a culpa é sua mãe!

Nisso tudo, só lembrei de uma entrevista com a mãe do Bolsonaro, tadinha, uma senhorinha de seus 80 e la vai... tendo que se justificar publicamente pelo comportamento de um marmanjo.

É inegável a influência que temos na vida de nosso filhos e por conseguinte nos adultos que eles se tornam, mas vou revelar um segredo importante, crianças também tem pais! Preparados para mais uma? Elas também tem avós, tias e tios, irmãos, professores, babás e toda uma rede de pessoas que interagem com ela. E por ultimo, seres humanos são, em parte, reflexo do contexto social e cultural (familiar, religioso, acadêmico e etc) no qual se inserem, e as mães, por incrível que pareça também são seres humanos.

Então minha gente, mais amor e menos ódio, mais empatia pelo próximo. Entendo que temos que defender o mais vulnerável sempre (nesse caso a criança) mas existem "N" formas de fazer isso, e atarcar a mãe não vai ajudar em nada... 

Não é uma questão de dizer "culpa não" de forma desconexa e irresponsável, como na campanha daquela famosa revista. Ao contrário, é saber que a criança é um ser em formação, ela deve ser prioridade para todos, mas quando as coisas não "andam como se espera"não adianta apenas jogar pedra na mãe, vamos ver outras formas de mudar a realidade? Informação, educação e empoderamento não se transmitem por osmose, então meus caros acolham e ajudem... só assim mudamos a realidade.


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