quinta-feira, 9 de abril de 2015

Eu mamãe: a louca naturalista.

Seria engraçado não fosse trágico, o senso comum geral sobre a forma como as crianças devem ser tratadas, alimentadas, como devem vestir-se ou com que brinquedos devem brincar beira a imbecilidade.

Porque criança tem que comer alimento ultraprocessado? Porque oferecer nuggets de cartilagem de galinha? Isso é comida de criança? E os docinhos? Mas criança não pode viver sem pirulito... "Há mas é só um pirulitinho... você tem que saber que seu filho vive no mundo e que precisa ter contato com essas coisas" Sempre tem um iluminado de plantão para soltar essa frase.

O que posso dizer? Eu sei disso, só não queria que ela tivesse recebido seu primeiro pirulito antes dos dois anos, na escola, pelas mãos das professoras.

E os brinquedos? E o mundo rosa e lilas? O que falar disso? E ODEIO rosa, Marina gosta, então ela usa, mas ela passou a gostar mais por causa do convívio com outras meninas vestidas de rosa, por causa da escola e etc... entende?

Fora as opiniões sobre educação do filho dos outros, por Thor!!!! Oxum me acuda!!! Se sua avó e sua mãe te educavam de uma certa maneira, te batiam, e hoje você é uma pessoa de bem e sobreviveu, ótimo para você!!!! Mas não venha tentar me convencer a criar uma sobrevivente, aqui a intenção não é essa. 

A escola...de forma geral ajuda a reproduzir essas ideias massificadas... quando penso a respeito sempre me vem a mente aquela imagem de um rebanho de ovelhas correndo juntas e depois se transformando em uma massa de trabalhadores do filme Tempos Modernos de Chaplin, aliás apesar de antigo esse é um filme bem atual. Existem escolas que fogem desse padrão, mas são minoria. A escola que Marina frequenta está no meio termo, tem respeito pelo brincar, pelo ludico, mas apresenta essa reprodução de alguns valores
equivocados. Eu tento dosar, filtrar muita coisa em casa, mas por hora essa é a opção viável para nossa família, pois na cidade em que moramos não tem escolas Waldorf (seriam minha primeira opção), e o homeschooling infelizmente não é possível para nós nesse momento.

Fora o problema que a gente arruma quando decide criar um filho sem religião... as pessoas simplesmente não entendem, não ter religião não significa ser ruim, desonesto...ou qualquer coisa do tipo. Ao contrário, pessoas sem religião tendem a ser mais justas e empáticas, e seguimos educando Marina nesse sentido. Ela não precisa ter medo de deixar "papai do ceu triste" porque fez algo errado, não, mil vezes não! Espero que aos poucos, assim que for tendo maior compreensão, vá entendendo a melhor forma de se comportar, e que toda ação leva a uma reação, então não vai quebrar o brinquedo do colega porque cosegue se por no lugar dele e sabe como seria ruim ter seu brinquedo quebrado. Aqui está valendo a velha
máxima, não se faz com os outros o que não queremos para nós, simples assim.

Depois que fui mãe, sai da matrix do senso comum, fiquei mais crítica e mais cuidadosa, isso tudo me fez mudar, irremediavelmente. Acontece que, o que antes era indolor, hoje incomoda, me faz mal. Ao ver um bebê de 4 meses comendo papinha porque o Pediatra Fofo passou, não consigo mais ficar calada (e olhe que o esforço interno para tal é enorme), que a Cesa Lushoo foi agendada por causa da pesigosa circular de cordão, que menino não pode brincar de boneca (sério que já ouvi mãe brigando com menino de 2 anos por isso)... isso vem me irritando cada dia mais. 

Esse comportamento em relação a infância é muito tenebroso, porém não creio que os pais sejam os culpados, não é um julgamento pessoal. Acontece que temos toda uma organização social, instituições religiosas, industriais (alimentos, vestuário, brinquedos), escolas, sociedade e no fim de tudo, ele... o velho patriarcado, dizendo como mulheres e crianças devem se portar, como sua vida, seus corpos, sua inserção na sociedade deve acontecer e isso tudo é muito foda de se aguentar. 

Antes eu apenas reproduzia o discurso, agora fora da matrix percebo o quanto devo ter sido babaca um dia, então peço desculpas a todas a mães que me ouviram falar qualquer dessas besteiras antes de ser mãe. 

Aqui eu no inicio da loucura, trabalhando e me empoderando com minha curuminha ainda bebê.
Estou aprendendo, a cada dia, mas desde já agradeço muito a Marina que foi o fogo que possibilitou que eu me renovasse. Curso nenhum (graduação, especialização, mestrado, doutorado) teve essa capacidade, nem as horas de estudo, nem as pesquisas, nem os inúmeros artigos científicos foram capazes de despertar em mim essa linda loucura, essa inqueitação que me abate e que me faz tentar ser melhor, por ela, por mim, pelas outras mulheres e crianças, por um mundo com mais amor, mais aceitação e principalmente mais respeito as necessidades da infância, para que possamos ter adultos fisica e emocionalmente saudáveis.

Fica aqui o desabafo de uma mãe que já vestiu a carapulsa de louca, porque se ser assim é ser louca, sim eu sou louca, com muito prazer.


2 comentários:

  1. Me identifiquei bastante com o post. Sou mãe de uma bebê ainda não nascida, to morando na França e a reflexão sobre sua a criação e desenvolvimento da pequena são as mesmas. Não sei se é porque estou vivendo em uma outra cultura, ou se é a escolaridade (também tenho mestrado e doutorado - em poucos meses), mas como você não consigo não ter pensamento critico. Você acha dificil ficar calada, eu acho dificil aceitar a ignorancia (no sentido de falta de conhecimento, realmente), a falta de pensamento critico, das pessoas. Não que elas tenham que pensar como eu, mas se querem opinar, que seja de forma informada, a partir de fontes confiaveis, pra que que a discussão (que é super saudavel) possa existir! #desabafo rs
    Enfim, gostei muito do blog! Ja esta salvo entre meus preferidos!
    http://oquartodasapinha.blogspot.fr/

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    1. Muito obrigada Carol. Uma coisa que me deixa esperançosa nesse mundão, é que, cada dia mais encontro mães, pais e cuidadores saindo da matrix.

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